Você acha que é necessário ser jornalista para falar sobre futebol?
Em um dos principais programas de esporte da televisão Brasileira os apresentadores despertam uma dúvida. No Esporte Espetacular que vai ao ar todos os Domingos pela manhã os apresentadores são ex-esportistas sem graduação em Jornalismo. Alexandre Ramos Samuel, o Tande e Glenda Kozlowski formam a dupla de apresentação do programa: o primeiro ex-jogador de vôlei, e a segunda era bodyboarder brasileira. Mas será que eles tem conhecimento suficiente do meio televisivo para ocupar um espaço tão importante e de responsabilidade da televisão?
Em um vídeo que foi publicado na internet mostra uma "gafe" do apresentador Tande. Veja abaixo:
Para muitos, o erro cometido no vídeo é o retrato da falta de estudo e entendimento sobre o jornalismo. "É conhecimento básico do jornalista que é necessário estar no lugar de ponto de ao vivo pelo menos 30 minutos antes da transmissão. Além disso é necessário se concentrar, ler e reler o texto, compreender a informação que vai passar. O repórter tem que estar concentrado porque pode aparecer na tela da televisão a qualquer momento", disse a coordenadora de Jornalismo da TV Nativa, Nathalia King, que defende o profissional diplomado para exercer funções nos meios de comunicação: "O jornalista estuda quatro, cinco anos para ter a capacidade de fazer o mesmo. E mais, muitos deles (e principalmente na área do esporte) se especializam, então vão ter o conhecimento técnico para comentar sobre qualquer esporte", completa a coordenadora.
Nathalia King apresentadora do Nativa 12 horas foto: Katiucia Fichel |
Em Pelotas existe exemplos de pessoas que ocupam posições na mídia e que também não são diplomados. Na TV Nativa o comentarista que diariamente expõe opiniões não é formado. André Muller, é estudante de Educação Física e faz comentários também para uma emissora de rádio." Acho que seria importante, não fundamental, já que o cargo que ocupo é opinativo e relacionado a um assunto específico e é complementado com matérias e apresentação de colegas com, ou em formação acadêmica no jornalismo", disse André.
Já o apresentador do Nativa Esportes, mesmo programa de André Muller, é estudante do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, da Universidade Católica de Pelotas. Bruno Halpern acredita que "A experiência de quem já viveu com o esporte pode refletir em um comentário com mais sabedoria e conhecimento do que de um repórter que terá antes que estudar o assunto para poder falar sobre ele", diz.
Quanto ao colega da emissora, o apresentador defende a bagagem de mais de 20 anos do comentarista: "Pessoas em contato com o esporte há anos e também ex-atletas estão ocupando principais espaços na televisão mesmo que muitas vezes não utilizando a gramática mais adequada ou seguindo regras básicas de telejornalismo, pelo fato de terem propriedade para falar do assunto", disse Bruno. Mas ainda segundo ele, detalhes técnicos fazem a diferença: "A atenção antes de entrar no ar e posicionamento em frente às câmeras são coisas que te ensinam na universidade e por isso acredito que quem está em algum veículo, passando informações às pessoas, deveria estudar jornalismo. Para mim, seria o correto.", completa o apresentador.
Bruno e André no Nativa Esportes Foto: TV Nativa |
Exemplos a nível nacional podem ser presenciados em transmissões de jogos de futebol. Muitas vezes em jogos da Seleção Brasileira, como na Copa do Mundo, a apresentação é feita por Galvão Bueno (situação de André Muller, de Pelotas, na área há muitos anos) e por Walter Casagrande, ex jogador de futebol sem nenhum conhecimento de jornalismo.
Diferentemente do ex-jogador Casagrande, em Pelotas existe ainda um outro exemplo: um antigo esportista hoje atua em importante emprego. Sérgio Cabral está há 19 anos no Diário Popular e hoje ocupa o cargo de coordenador de esportes da empresa. Nunca foi formado em jornalismo mas tem na carreira cargos de técnico e assistente de futsal e gandula. "Acho que não necessariamente precisa ter diploma para atuar, mas a pessoa tem que ter conhecimento na área, já ter vivido alguma experiência no esporte e claro, ter escolaridade", disse Cabral.
Galvão Bueno e Casagrande ao vivo pela TV Globo foto: Blog Odir Cunha |
Sérgio Cabral Foto: Diário Popular |
"Acho que a soma das situações (formação acadêmica e conhecimento específico) é o ideal. Apenas ter a formação jornalística não significa qualidade. Tampouco ter sido esportista, de maneira isolada, representa ter capacidade para desempenhar qualquer função na comunicação" destaca o comentarista da TV Nativa.
"Às vezes acho que o telespectador acredita na informação repassada por um ex-atleta sem graduação na Comunicação porque ele é uma pessoa pública, que já fez sucesso na área. Mesmo assim, não cursou a Comunicação, não conhece os métodos de apuração da informação e - principalmente - não tem em mente o foco de manter a ética e a imparcialidade da notícia. O jornalista já leva mais a sério, pois estudou as teorias e sabe como proceder" completou a jornalista Nathalia King.
Um conflito de opiniões é formado. Porém independente da formação, o consenso que se chega é que a notícia e a informação deve ser passada de maneira correta e com credibilidade. O telespectador acredita naquilo que lê e naquilo que assiste na televisão.
Toda esta responsabilidade, segundo a coordenadora de jornalismo, Nathalia King, é atribuida à empresa contratante do profissional "Cabe ao diretor do veículo de televisão, por exemplo, compreender o quão importante é seguir essa linha e não contratar profissionais que não estejam aptos para o trabalho. Só assim, o veículo ganha credibilidade junto aos telespectadores mais exigentes."
Patrícia: O que achas do meio esportivo na mídia estar cada vez com menos jornalistas e com mais ex-atletas?
Nathalia: Acredito que é um erro. Geralmente os comentaristas contratados são ex-atletas, pessoas que já tiveram influência no mundo do esporte e que, pela prática, possuem conhecimento sobre o assunto. Creio que seja interessante lançar mão dessas opiniões em reportagens produzidas, focadas em algum assunto, porque pode ser um diferencial. Mas quanto a ser comentarista fixo de alguma emissora acho um erro. O jornalista estuda quatro, cinco anos para ter a capacidade de fazer o mesmo. E mais, muitos deles (e principalmente na área do esporte) se especializam, então vão ter o conhecimento técnico para comentar sobre qualquer esporte.
Patrícia: Achas que a informação pode ficar comprometida se transmitida por um ex-atleta sem graduação na comunicação?
Nathalia: Às vezes acho que o telespectador acredite na informação repassada por um ex-atleta sem graduação na Comunicação porque ele é uma pessoa pública, que já fez sucesso na área. Mesmo assim, não cursou a Comunicação, não conhece os métodos de apuração da informação e - principalmente - não tem em mente o foco de manter a ética e a imparcialidade da notícia. O jornalista já leva mais a sério, pois estudou as teorias e sabe como proceder.
Patrícia: Um exemplo que foi muito divulgado nas redes sociais foi a "gafe" cometida ao vivo pelo apresentador Tande. A que aderes este fato? A falta de conhecimento do meio jornalístico? A "gafe" pode ser acessada em: http://www.youtube.com/watch?v=0tiLKiI50Fc
Nathalia: Com certeza. É de conhecimento básico do jornalista que é necessário estar no lugar de ponto de ao vivo pelo menos 30 minutos antes da transmissão. É necessário se concentrar, ler e reler o texto, compreender a informação que vai passar. E quando falta, por exemplo, um minuto para o ao vivo, o repórter tem que estar concentrado, porque pode aparecer na tela da televisão a qualquer momento. Aparecer na televisão - no jornalismo - não é um espetáculo, algo para ficar bonito. É para repassar uma informação, sem atuações.
Patrícia: Por que acreditas que cada vez mais os esportistas estão tomando conta do meio televisivo? A importância do diploma está sendo esquecida na tua opinião?
Nathalia: Creio que virou modismo. Talvez porque o telespectador aceite esse tipo de transmissão. Ver alguém famoso, que já atuou na área passa algum tipo de credibilidade para quem assiste aos jogos. Os grandes meios só contratam os esportistas porque existe algum tipo de aceitação na audiência. Só que o interessante é que não passa daquilo, somente um comentário. O positivo de chamar um jornalista para o trabalho é que o mesmo ainda pode ir a campo, realizar reportagens, entrevistas ao vivo porque ele sim, possui o conhecimento necessário, é um profissional completo.
Patrícia: Achas que o papel da empresa é fundamental na hora de escolher o profissional para trabalhar no meio esportivo?
Nathalia: Com certeza. É claro que os jornalistas que já trabalham na emissora prezam essa contratação de profissionais com diploma. Mas cabe ao diretor do veículo de televisão compreender o quão importante é seguir essa linha e não contratar profissionais que não estejam aptos para o trabalho. Só assim, o canal de televisão ganha credibilidade junto aos telespectadores mais exigentes.
- A entrevista feita por email com a coordenadora de Jornalismo da TV Nativa Record, Nathalia King, você pode conferir na íntegra. A jornalista é formada há 4 anos pela Universidade Católica de Pelotas.
Patrícia: O que achas do meio esportivo na mídia estar cada vez com menos jornalistas e com mais ex-atletas?
Nathalia: Acredito que é um erro. Geralmente os comentaristas contratados são ex-atletas, pessoas que já tiveram influência no mundo do esporte e que, pela prática, possuem conhecimento sobre o assunto. Creio que seja interessante lançar mão dessas opiniões em reportagens produzidas, focadas em algum assunto, porque pode ser um diferencial. Mas quanto a ser comentarista fixo de alguma emissora acho um erro. O jornalista estuda quatro, cinco anos para ter a capacidade de fazer o mesmo. E mais, muitos deles (e principalmente na área do esporte) se especializam, então vão ter o conhecimento técnico para comentar sobre qualquer esporte.
Patrícia: Achas que a informação pode ficar comprometida se transmitida por um ex-atleta sem graduação na comunicação?
Nathalia: Às vezes acho que o telespectador acredite na informação repassada por um ex-atleta sem graduação na Comunicação porque ele é uma pessoa pública, que já fez sucesso na área. Mesmo assim, não cursou a Comunicação, não conhece os métodos de apuração da informação e - principalmente - não tem em mente o foco de manter a ética e a imparcialidade da notícia. O jornalista já leva mais a sério, pois estudou as teorias e sabe como proceder.
Patrícia: Um exemplo que foi muito divulgado nas redes sociais foi a "gafe" cometida ao vivo pelo apresentador Tande. A que aderes este fato? A falta de conhecimento do meio jornalístico? A "gafe" pode ser acessada em: http://www.youtube.com/watch?v=0tiLKiI50Fc
Nathalia: Com certeza. É de conhecimento básico do jornalista que é necessário estar no lugar de ponto de ao vivo pelo menos 30 minutos antes da transmissão. É necessário se concentrar, ler e reler o texto, compreender a informação que vai passar. E quando falta, por exemplo, um minuto para o ao vivo, o repórter tem que estar concentrado, porque pode aparecer na tela da televisão a qualquer momento. Aparecer na televisão - no jornalismo - não é um espetáculo, algo para ficar bonito. É para repassar uma informação, sem atuações.
Patrícia: Por que acreditas que cada vez mais os esportistas estão tomando conta do meio televisivo? A importância do diploma está sendo esquecida na tua opinião?
Nathalia: Creio que virou modismo. Talvez porque o telespectador aceite esse tipo de transmissão. Ver alguém famoso, que já atuou na área passa algum tipo de credibilidade para quem assiste aos jogos. Os grandes meios só contratam os esportistas porque existe algum tipo de aceitação na audiência. Só que o interessante é que não passa daquilo, somente um comentário. O positivo de chamar um jornalista para o trabalho é que o mesmo ainda pode ir a campo, realizar reportagens, entrevistas ao vivo porque ele sim, possui o conhecimento necessário, é um profissional completo.
Patrícia: Achas que o papel da empresa é fundamental na hora de escolher o profissional para trabalhar no meio esportivo?
Nathalia: Com certeza. É claro que os jornalistas que já trabalham na emissora prezam essa contratação de profissionais com diploma. Mas cabe ao diretor do veículo de televisão compreender o quão importante é seguir essa linha e não contratar profissionais que não estejam aptos para o trabalho. Só assim, o canal de televisão ganha credibilidade junto aos telespectadores mais exigentes.